Como ensinar uma criança sobre o grande pensador e sociólogo polonês Zygmunt Bauman
Zygmunt Bauman, um dos mais importantes pensadores do século XX e XXI, oferece uma lente essencial para compreender as complexas transformações da sociedade contemporânea. Através de sua obra, o sociólogo polonês desvenda o conceito de modernidade líquida, uma metáfora poderosa para a fluidez, instabilidade e efemeridade das relações humanas, instituições e identidades na era atual. O objetivo deste artigo é mostrar como você pode ensinar as ideias desse grande pensador a uma criança de forma simples, por meio de uma pequena história.
ARTIGOS
Marcelo J. Marques

"A Vida Como Água
Imagine que o mundo dos seus avós e bisavós era como uma casa sólida de tijolos. As pessoas tinham empregos fixos para a vida toda, moravam no mesmo lugar e os relacionamentos duravam muito tempo. Tudo era estável, previsível e feito para durar.
Agora, imagine o mundo de hoje. Bauman diria que ele não é mais uma casa de tijolos, mas sim um mundo de água. A água está sempre em movimento, flui, muda de forma e não se prende a nada. É por isso que ele chama a nossa época de modernidade líquida.
Nesse mundo líquido:
Tudo é mais rápido e passageiro. Os empregos mudam, as amizades vêm e vão, e as notícias de hoje são esquecidas amanhã. É como tentar segurar a água com as mãos: ela sempre escorre.
As relações são mais frágeis. Em vez de construir laços fortes, as pessoas tendem a ter "conexões" superficiais, como em redes sociais. É fácil adicionar um amigo, mas também é fácil deletá-lo. As amizades parecem feitas de gelo fino que pode derreter a qualquer momento.
A busca pela felicidade é constante, mas incerta. As pessoas estão sempre em busca da próxima coisa que as fará felizes: um novo celular, um novo brinquedo, um novo jogo. Mas, assim como a água que nunca se satisfaz com um único lugar, a felicidade parece sempre escorrer e precisar ser procurada novamente.
Em resumo, Zygmunt Bauman nos ensina que vivemos em um mundo onde nada é feito para durar. É um mundo de constantes mudanças e incertezas. A solidez de antes deu lugar à fluidez de agora. E essa fluidez, embora nos dê liberdade para nos movermos, também nos torna mais inseguros e solitários, como se estivéssemos sempre flutuando em um rio sem margens firmes."
Zygmunt Bauman
Sociólogo polonês, conhecido mundialmente por seu conceito de Modernidade líquida - em que as ideias de emancipação, individualidade, tempo/espaço, trabalho e comunidade estão propensas a mudar com rapidez e de forma imprevisível. Falecido em 2017, Bauman foi professor emérito de sociologia nas Universidades de Leeds (Inglaterra) e de Varsóvia (Polônia). Foi agraciado com o Prêmio Príncipe das Astúrias de comunicação e humanidades em 2010, teve várias obras publicadas no Brasil.
Para Refletir
Em entrevista realizada em 2014 à MGMagazine traduzida para o português e publicada pelo site Fronteiras do Pensamento, disse, aos 89 anos, sobre o mundo atual e como entende os efeitos da modernidade sobre as pessoas. “As consequências são a austeridade, o aumento do desemprego e, sobretudo, a devastação emocional e mental de muitos jovens que entram agora no mercado de trabalho e sentem que não são bem-vindos, que não podem adicionar nada ao bem-estar da sociedade, porque são uma carga”, diz.
MGMagazine: O senhor imaginou que poderia se tornar uma estrela midiática em nível global?
Zygmunt Bauman: Certamente não. Mas não sou uma estrela. Quando eu morrer, o que provavelmente acontecerá logo, com certeza morrerei como uma pessoa insatisfeita, que não alcançou seu objetivo.
MGMagazine: Por quê?
Zygmunt Bauman: Porque tratei de transmitir certas ideias durante toda a minha vida, que tem sido muito longa. E quando olho pra trás, existe toda uma montanha cinza de esperanças e expectativas que morreram ao nascer ou faleceram muito jovens. Não tenho nada para me gabar. Tento juntar palavras para dizer às pessoas quais são os problemas, de onde eles vêm, onde se escondem, como encontrar ajuda para resolvê-los se for possível. Mas são palavras. E não nego que são poderosas, porque a nossa realidade, o que nós pensamos que é o mundo, esta sala, nossa vida, nossas lembranças, são palavras. Mas, apesar de ter vivido tantos anos, não consegui resolver o problema de transformar as palavras em carne. Hoje, existe uma enorme quantidade de pessoas que querem a transformação, que têm ideias de como tornar o mundo melhor não somente para eles, mas também para os outros, mais hospitaleiro. Mas na sociedade contemporânea, na qual somos mais livres do que nunca, ao mesmo tempo somos também mais impotentes do que em qualquer outro momento da história. Todos sentimos a desagradável experiência de ser incapazes de mudar qualquer coisa. Somos um conjunto de indivíduos com boas intenções, mas entre as intenções e os projetos e a realidade tem muita distância. Todos sofremos agora mais do que em qualquer outro momento pela falta total de agentes, de instituições coletivas capazes de atuar efetivamente.
Imagem de fundo: Poznan, na Polônia (Cidade Natal de Bauman)
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Marcelo Jordão Marques
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